“Processo de luto pode tornar-se mais penoso, mais prolongado e complicado”
Perante a pandemia Covid-19, a morte e os números de casos de infetados passou a ser um assunto na ordem do dia. Passámos a ser bombardeados com notícias de registos diários e estatísticas em Portugal e noutros países. Todos nós sabemos que a morte é um tema difícil de abordar e sobre o qual preferimos não falar.
Em tempo de pandemia, cuidar das pessoas em fim de vida e realizar funerais passaram a ter regras específicas.
Todas estas circunstâncias, associadas à dor da perda, tornam o processo do luto particularmente mais difícil.
O luto é uma resposta natural do ser humano á perda de alguém de quem gostamos muito e frequentemente acompanhada de sentimentos de tristeza, negação, raiva ou culpa. Durante o processo de luto a pessoa procura construir um significado para a integração da perda.
O processo de luto pode ser mais ou menos longo de acordo com a relação que essa pessoa tinha com a pessoa falecida. A rede de suporte, em particular dos familiares e amigos, é extremamente importante.
No contexto de pandemia que vivemos, o abraço, a proximidade física dos outros não podem existir, potenciando assim maior solidão e vulnerabilidade. Desta forma, o processo de luto pode tornar-se mais penoso, mais prolongado e complicado.
Viver uma crise (perder alguém querido) dentro de outra crise ( a pandemia) pode acentuar a ansiedade e risco de depressão.
Uma parte importante do processo de luto é o momento da despedida. O ritual do funeral cumpre também uma função comunitária em que os participantes apoiam e mostram-se solidários com a perda. Sendo que atualmente tal não é possível devido ao contexto que vivemos, os familiares e amigos despedem-se de forma rápida e dão importância a outros aspetos mais relevantes naquele momento preciso.
Perante todas estas circunstâncias (e mortes mais trágicas do que outras), existem pessoas que tendem a desvalorizar os seus próprios problemas e emoções, entendendo que possam ser menos merecedores de atenção e sentirem culpa por ocupar as ajudas e apoios disponibilizados. É importante realçar a ideia de que apesar de haver quem esteja na linha da frente e a prestar cuidados, o seu pedido de ajuda não será menos importante e merecedor de intervenção: estamos cá para si! Os seus sentimentos são igualmente válidos, mesmo nas circunstâncias trágicas atuais. Falar sobre o que sente pode ajudar, assim como recordar quem morreu e partilhar memórias.
Sugiro algumas dicas que poderão ajudar os enlutados e os seus familiares:
- Falar sobre a perda com familiares e amigos: partilhe a sua tristeza com os outros, seja através do telefone, videochamadas, mensagens de texto ou redes sociais;
- Expressar as emoções: tente criar um pequeno ritual de homenagem de despedida (ex: acender uma carta, ver fotografias significativas ou ouvir as músicas favoritas da pessoa que faleceu);
- Criar um memorial online;
- Não se envolver em tarefas para adiar o luto: respeite o seu tempo, pois é natural que haja alterações no nosso estado de espírito. Podemos ter sensações negativas resultantes da perda em si ou positivas fruto das boas recordações. Permita-se essas sensações;
- Tentar manter uma rotina: não abdique do que lhe dá prazer e lhe traz algum ânimo. Cuidar de nós pode ajudar bastante na forma como reagimos à situação.